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Sobre mim

Meu nome é Giovanna e tenho 21 anos. Sou formada técnica em mecânica pelo Instituto Federal de São Paulo e atualmente curso Bacharel em Ciência e Tecnologia pela Universidade Federal do ABC, junto com Neurociência e Engenharia Biomédica. 

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Writer's pictureGiovanna Sociarelli

Training Camp da Seleção Feminina de Futebol Americano: A Luta por Mais

Entre passes, recepções, tackles e interceptações, a Seleção Brasileira Feminina mostra que sonha alto em campo - e que é necessário muito amor para continuar fazendo o esporte crescer.


A Seleção Brasileira Feminina de Futebol Americano realizou, no último feriado de Corpus Christi (16 a 19), um Training Camp em Itapecerica da Serra (SP), sede oficial da CBFA (Confederação Brasileira de Futebol Americano). A convocação para esse encontro, que marca o início do ciclo para o Mundial de 2026 (ainda sem sede definida) e para amistosos que ocorrerão no ano que vem, havia sido realizada no dia 12 de abril.


“Diferente do primeiro TC, senti um clima muito mais próximo da comissão com a gente, saber que nosso Head Coach conhece cada uma que estava ali, buscando certa interação com a gente, foi extremamente importante para mim porque a gente também quer se sentir importante dentro desse projeto com a seleção. Ainda sinto que falta muita coisa chegar para a gente, ainda tenho um sentimento de ficarmos às vezes na sombra do F.A. masculino, mas entendo que é um processo que não cabe somente à comissão resolver. Mas, com toda adversidade e tudo que poderia dar errado nesse TC, nós tínhamos mulheres com muita vontade de fazer dar certo. E nós fizemos.” – Bianca Pimentel, DL.


Quem não olha atentamente imagina que o trabalho intenso é apenas físico nesses 4 dias, no entanto, a preparação remete há muitos meses de trabalho, tanto por parte da comissão técnica, quanto por parte das atletas. A primeira se reuniu por chamadas remotas antes que tudo começasse a sair do papel, visando compartilhar experiências, ideias e, dessa forma, montar aulas posicionais e por unidades, que foram passadas semanalmente, com um mês de antecedência, para todas as atletas convocadas. Como costuma-se dizer, muito além de qualquer contato, o futebol americano é um jogo que exige um estudo aplicado e eficiente, portanto, são necessárias muita vontade e determinação para ambos os lados envolvidos.

“Para mim, conduzir a seleção feminina significa tudo. Eu sinto que cheguei no topo do futebol americano, é um orgulho absurdo. Eu gosto de trabalhar com as meninas, é um nível diferente de trabalho, o feedback com elas é muito mais legal, elas são muito mais agradecidas, é muito mais recompensador treiná-las. Para mim, é uma honra fora do normal. Eu não tinha me dado muito conta de que eu era HC da seleção feminina antes do Camp, isso é muito incrível”. – Raphael Negreiros, HC.

As atletas também tiveram que passar por uma preparação física mais intensa nos meses que antecederam o Training Camp, tendo a obrigação de enviar vídeos dos exercícios a seus técnicos. É necessário ressaltar que esse foi o primeiro encontro após o início da pandemia e que foram mais de 2 anos de campeonatos suspensos no Brasil, causando uma grande diferença no ritmo de jogo. Portanto, a importância da preocupação com condicionamento físico é extremamente válida, seja para o TC, seja para a volta do Campeonato Brasileiro.


“A troca de experiência entre coaches e principalmente atletas é surreal, cada um com suas particularidades. Então, me ajudou tanto a enxergar o que preciso melhorar em relação à técnica na minha posição, quanto a manter ainda mais os meus pontos fortes”. – Soraya Rodrigues (Sol), QB.


A Programação do Training Camp


O TC iniciou presencialmente na quinta-feira (16), com a chegada das atletas antes da hora do almoço, ganhando um tempo para que pudessem conversar, conhecer umas às outras e comer. Após isso, foi hora de colocar a mão na massa e suar a camisa, passando por 2 horas e meia de teste físico, que contou com medição de saltos, força e resistência. Esse dia foi encerrado com aulas teóricas por posição e por unidade, jantar, atendimento dos fisioterapeutas e descanso, pois respeitar o corpo também é parte do processo!


“O TC foi incrível, a experiência de conviver com mulheres que fazem parte da mesma luta que a sua de mudar o cenário nacional do FA é gratificante, além de representar meu país, que é o sonho de todo atleta. A comissão técnica é excelente, e elevaram o nível das atletas”. – Tatiane do Nascimento, WR.

Na sexta e no sábado (17,18) a rotina foi um pouco diferente: começando com o café da manhã, passando por 2 horas de treinos específicos por posição, que era encerrado com um ataque x defesa básico, apenas para que conceitos, técnicas e táticas pudessem ser trabalhados – rotina repetida após o almoço. Todos os treinos foram gravados pela comissão, com isso, ao final do dia o foco era assistir aos vídeos, receber feedbacks de melhora e realizar estudos teóricos (também por posição e unidade). O dia se encerrava com um tempo livre para fisioterapia, recuperação, descanso, janta e confraternização entre as atletas.


“O planejamento da CT foi incrível esse ano. Com um Camp de 4 dias, eles souberam balancear tudo para que aguentássemos treinar todos os dias (não é fácil). O fato de termos ficado em alojamento foi bem legal e acabou me unindo com pessoas que eu dificilmente teria conversado em outras situações, e vejo que isso foi para todas. No último dia, o pessoal dos times se sentava misturado para comer, de forma supernatural, e você percebe amizades surgindo ali. Com todos os perrengues que tivemos, acho que ajudou até a galera a ser mais unida e trabalhar junto pro Camp rolar da melhor forma possível.” – Amanda Janate, LB


A fim de prevenir lesões, principalmente pelas condições de gramado após alguns dias de chuva em São Paulo, os contatos foram mínimos nos primeiros dias, poupando as atletas o máximo possível. Mas não imagine que elas ficaram abandonadas: para melhor recuperação, a Seleção foi assistida e tratada a todo momento pela equipe Focus Fisioterapia Esportiva, liderada pela maravilhosa Carol Jost.


“Sobre o TC, eu amo, é uma adrenalina do dedinho à cabeça. Eu acho incrível as pessoas estarem lá, porque são rivais geralmente, então eu estou em uma oportunidade de estar no mesmo time das minhas adversárias e isso é muito gratificante. Eu fico muito empolgada, isso jamais iria acontecer se não fosse na seleção. De verdade, eu fico muito emocionada de estar lá e treinar com as melhores do país.” – Andressa Hotsumi, RB.


No domingo (19), último dia de Camp, o grande evento: jogo oficial do ataque x defesa com 4 tempos de 10 minutos, em que a defesa levou a melhor. Com isso, os coaches conseguiram testar em campo e avaliar os aprendizados das atletas adquiridos nos 3 dias anteriores. O jogo foi gravado e as atletas receberão, dentro das próximas semanas, avaliações e estudos em cima deles. Ademais, o evento foi encerrado com uma reunião para feedback geral e, assim, espera-se que elas possam trabalhar para elevar ainda mais o nível de jogo.


“Eu sou muito competitiva e ser a atleta mais antiga do FA no TC com certeza me gerou uma cobrança interna ainda maior. Mas foi incrível. Sem dúvidas eu aprendi muito. Em 4 dias eu aprendi coisas que, em 12 anos jogando, eu nunca tinha usado (o que foi difícil no começo). Entender e decorar toda nomenclatura (e os sinais) para duas posições diferentes do zero foi um desafio, mas saí de lá feliz por ver quanto o cenário feminino evoluiu com a ajuda de tanta gente estudiosa e dedicada ajudando. Com certeza vou buscar aplicar essa evolução de jogo para o meu time. – Vanessa Yorio, H-Back.


A Comissão Técnica

“A CT é maravilhosa. Só gente que vem crescendo cada vez mais, pronta para aprender, pronta para ensinar, aberta a conversas e a trabalhar junto.” – Maria Gabriela, coordenadora de RBs

A verdade é que nada disso seria possível se o Brasil Onças não tivesse uma Comissão Técnica tão dedicada ao propósito de elevar o nível do Futebol Americano Feminino no país. A honra de fazer parte desse momento de crescimento do esporte não é válida apenas às atletas, mas também aos membros da CT. Para o Fernando Ferreira, coordenador de DBs, esse momento é um marco para a categoria, mas apenas uma pequena amostra de tudo que ainda está por vir:


“Fazer parte da seleção BR feminina, para mim, é uma honra, pelo reconhecimento do trabalho de anos no futebol com a categoria e uma conquista fundamental para as atletas. Conseguir fazer parte desse projeto e saber que posso ajudá-las de alguma forma a serem a elite do esporte nacional. Ser técnico no Brasil não é fácil, na categoria feminina é ainda mais desafiador. Existem dificuldades de equipamentos, pessoas para ajudar e acho que o mais complicado é a falta de apoio para a maioria das atletas. Algumas não conseguem se manter no esporte por preconceitos que, muitas vezes, vem de familiares. Ainda é um esporte visto como apenas para homens e isso causa inúmeras barreiras para elas – e para nós montarmos um time. Mas com muita luta e persistência aos poucos estamos mudando isso, a seleção é uma amostra. Conhecer novas ideias e formas de enxergar o FABR pelos olhos de coaches de outros estados foi a parte fundamental para mim. Trouxe soma na bagagem de conhecimento e na parte de campo. Acredito que isso só fará com que melhore minha forma de passar esse conhecimento.”


Para a Coordenadora de RBs, Maria Gabriela, uma das duas mulheres entre os membros da comissão, o Camp foi uma forma de se reconectar com o Futebol Americano “O esporte tem sido uma chave na minha vida, eu coloco como um marco a minha entrada para o FABR em 2015. O TC me reacendeu uma chama que às vezes vai se desgastando com a rotina. Estar lá somente para vivenciar o FA me trouxe um gás de volta que eu quero levar para os meus times, algo que vinha se apagando por conta da pandemia. O TC foi uma das minhas melhores experiências com o FA. Hoje, se perguntar se sinto mais prazer em ser atleta ou treinadora, eu sinto mil vezes mais prazer em estar na sideline, de ver que elas gostam tanto desse esporte quanto eu. É muito compensador ver os olhos brilhando de gratidão e isso paga qualquer dificuldade ou correria que conduzir um time traz”.


“Eu acho que estou desbravando um primeiro passo, e acredito que um dia essa CT será recheada de mulheres. Eu sinto que o futebol americano feminino no Brasil ainda é muito novo, então as meninas que começaram a desbravar isso ainda estão jogando. Daqui uns anos eu acredito que teremos mais opções de mulheres muito fortes dentro da CT com muito conhecimento técnico. Elas são muito inteligentes, buscam muito conhecimento, estão prontas para aprender e amam esse esporte tanto quanto eu”. – Maria Gabriela

O TC acabou, e agora?

“No último dia, a gente via os grupos de conversa por posição, independente do time. Não tinha rivalidade, tinha cumplicidade, amizade e fortalecimento do esporte. Na minha visão, para o FA feminino foi um dos maiores eventos para que a gente pudesse cumprir o crescimento do esporte. Claro que tiveram dificuldades, mas as meninas encararam isso de peito aberto e sorriso no rosto, prontas para aprender e praticar futebol americano. Isso foi o mais compensador porque, com a vontade delas de superar qualquer coisa, a gente também superou tudo, e fizemos um evento muito bom” – Maria Gabriela


Com o final do Camp, as atletas voltam para os seus times para se dedicarem ao Campeonato Brasileiro de FA, que teve início no dia 12 de junho com uma vitória da Portuguesa FA por 42 a 00 em cima do Cold Killers, em rodada realizada no Centro de Treinamento Touchdown (SP). Os ensinamentos compartilhados durante esses 4 dias devem influenciar muito nos times daqui para frente, elevando ainda mais o nível do FABR feminino.


“Motivação foi a palavra que me define ao final do TC, motivação de contribuir mais com a evolução do meu time, de melhorar a técnica, de buscar conhecimento e continuar evoluindo como atleta.” - Tatiane

Para o HC Raphael, o TC foi fundamental para a evolução da seleção e para a abertura desse novo ciclo:


“A Seleção instalou a filosofia tática e a filosofia de treino e as meninas pegaram isso muito bem. Daqui para frente, a ideia é aumentar o playbook, complexar ainda mais o treino, trabalhar o Special Teams (que por alguns motivos, não foi possível dessa vez) e trabalhar coisas mais complexas. Conseguimos passar o pace das coisas e entendemos que deixamos as meninas melhor preparadas taticamente para a temporada”, disse o HC.


Essa resposta e vontade de fazer ainda mais também é a mesma que passa por cada uma das atletas!


“Uma das coisas mais legais no FA, é que sempre existe algo para aprender, às vezes é um comentário dos coachs, até um drill inteiro, que agrega demais. Sem dúvida a CT ali tinha muito conhecimento para passar para gente. Agora, é levar o que aprendi para dentro do meu time, com minhas colegas de posição. Como objetivo a curto prazo, é focar nas correções passadas pelos coachs no feedback do final do Camp, tentar elevar meu nível fisicamente e tecnicamente para chegar melhor no próximo jogo, e se possível, no próximo camp”, disse Amanda Janate.


Para a OL Biga, o TC foi muito mais do que apenas conhecimento em campo: “Além de questões técnicas que aprendi e aprimorei, o TC veio em um momento que pessoalmente me motivou e muito. Trouxe de volta para o coração todos os motivos pelos quais eu comecei a jogar e me mantive atleta por todos esses anos”. A Sol ainda reflete sobre o quanto o TC vai ser importante para a temporada da Portuguesa FA: “Hoje estamos sem coach, então o foco maior é estudar para que consiga passar para as meninas desempenharem da melhor forma suas posições. Hoje, apesar de todas as adversidades que tenhamos passado, estou muito feliz com nosso desempenho coletivo e no final acho que ser atleta não é só saber lançar bem uma bola, mas focar no time como um todo e concentrar em dar resultados.”


O pós pandemia para o FABR Feminino

O campeonato continua e o futuro agora é no futuro. No entanto, é preciso que a atenção sob o Futebol Americano Feminino seja ainda maior agora. Com a pandemia, os times perderam muitas atletas, buscando agora voltarem à crescente que o esporte estava encontrando nos últimos anos. Esse é um momento extremamente delicado para a modalidade, o que significa que a dedicação e união entre todos os times (e federação) deve ser ainda maior. Como disse a Paolla Beatriz (DB), sem adversárias, não existe campeonato, ou seja, a mobilização e incentivo para novas atletas deve ser real e efetiva.


“Antes da pandemia, nós estávamos numa crescente muito boa do F.A feminino, campeonatos acontecendo e muita mulher jogando. Pós pandemia, isso mudou muito e parece que estamos reconstruindo tudo isso, tanto o nosso amor pelo esporte, como as nossas práticas. Então ser convocada, ficar 4 dias sentindo uma energia boa de pessoas que tem objetivos semelhantes aos meus, me lembrou de como eu amo esse jogo e como eu quero continuar jogando e contribuindo para que isso cresça cada vez mais na nossa comunidade e fora dela também. Espalhar o futebol americano, quando alguém ouve que existe uma seleção a gente sabe que o olhar dela muda, e isso com certeza pode ajudar no crescimento do esporte e é muito bom fazer parte disso.” – Bianca.


A preocupação agora não é somente com o próximo Camp, que será realizado em março, mas também na continuidade do campeonato brasileiro, como bem disse a Vanessa em importante mensagem às diretorias dos times: “Teve gente no TC me perguntando se eu achava que haveria campeonato nacional ano que vem... e de fato, hoje o futebol americano feminino no Brasil está muito frágil nesse pós pandemia. Além dessa galera nova precisar vir com disposição para tomar lideranças, é preciso que as atuais diretorias sejam menos egoístas. Se a gente quer ver a modalidade voltar a crescer, é preciso dar um passo para trás e voltar a incentivar os pequenos times, ao invés de criar sempre regras mais difíceis de serem seguidas. O FA precisa voltar a ser colaborativo entre todos os times”.


Raquel Araújo (WR), que além de atleta é presidente do Brasilia Pilots, compartilha da mesma preocupação: “Eu realmente amo futebol americano. Durante a pandemia esse sentimento ficou meio escondido porque a gente parou. Até mesmo no Pilots, a gente perdeu muitas atletas, estamos jogando com muitas novatas, então temos que ensinar muita coisa. Jogar mesmo igual no TC foi muito bom e me lembrou o porquê de eu amar tanto esse esporte, foi incrível. O objetivo no Pilots agora é sobreviver, pois temos poucas atletas”.


A relação de amor ao FA


Para qualquer coisa que se deseja fazer na vida, é necessário amor para continuar e dedicação para que se faça bem-feito. Porém, no caso do futebol americano no Brasil, essa relação deve ser ainda maior, pois os contratempos são muitos, os custos são gigantes e todo o estilo de vida deve mudar – todo esforço por um hobbie, mas que é algo muito maior do que somente isso. Olho para essa seleção e vejo 50 mulheres fortes, não somente de corpo, mas de vontade e de garra. Aquela coisa que você vê e te inspira a continuar persistindo em qualquer coisa na sua vida, das mais banais às mais relevantes. Existe sol depois da chuva. Existe amor depois da dor. É essa a mensagem que aprendo quando olho para esse TC, quando olho para toda e qualquer mulher que realmente se dedica em jogar Futebol Americano.


Claro que eu poderia me sentar em frente ao computador e apenas descrever friamente como foram esses 4 dias, mas não seria justo com elas, não seria justo com a modalidade. Cada um que estava ali presente teve que passar por muitas coisas para que isso fosse possível, e cada um carrega no coração essas batalhas. Eu não poderia pensar que fiz menos do que era capaz de fazer por elas, de que não dei toda a atenção que poderia, de que não apresentei a modalidade da melhor forma que consegui pensar. Cada uma ali me inspira de uma forma, e quero que essa mensagem fique clara para que o FA feminino continue crescendo – e é por isso que trago um pouco sobre algumas dessas histórias e desse amor.


A Paolla contou um pouco da importância do FA para a vida dela: “Eu nunca parei para pensar o que jogar significa para mim, mas eu sempre falo que é um dos poucos lugares em que eu sou eu mesma. É uma válvula de escape em que posso me desvencilhar da minha vida, não só dos problemas, mas das coisas rotineiras. [..] É bastante clichê dizer, mas é onde eu consigo superar os meus limites porque eu nunca pratiquei nenhum esporte, nunca me imaginei jogando futebol americano”.


Já a Sol compartilhou sua trajetória para chegar até aqui e uma valiosa lição de vida: “Na verdade, tudo começou no Rugby e foi daí que conheci o futebol americano. Morava no litoral norte de São Paulo e montei um time de FA feminino com algumas meninas, chegamos a fazer alguns amistosos, mas vi que não tinha muita pretensão de jogos e campeonatos, então senti naquele momento que precisava de mais - foi aí que fiz a seletiva na Portuguesa no início de 2018 e comecei a minha trajetória como quarterback. Subia todo fim de semana para treinar encarando 5h de viagem (ida e volta), acho que essa foi a maior adversidade. No início, eram poucos que acreditavam na minha evolução nessa posição, alguns coaches e minhas meninas sempre estavam ali para me motivar e ajudar a desempenhar da melhor forma possível. Vou citar aqui em específico a Melissa (atual presidente do time e atleta) e Bárbara (advogada do time e atleta) que sempre me ajudaram mentalmente, fisicamente e financeiramente. Sem elas, nada disso seria possível. Sempre no caminho vão ter pessoas que vão te desanimar, te criticar, não entender o porquê de tanta dedicação para o esporte e está tudo bem, cada um tem uma visão/opinião sobre você ou sobre as situações e acho que isso precisa ser respeitado. Eu pelo menos respeito muito porque hoje a minha mente está forte e só entram coisas boas. Então, aquilo que eu vejo que não vai me acrescentar, eu descarto. Hoje sei quem sou, respeito a minha história no futebol americano e o processo para chegar no meu melhor. [Jogar futebol americano] me traz muitos sentimentos bons e me ajuda a controlar as adversidades tanto dentro quanto fora de campo. Quando estou jogando tenho uma sensação de confiança absurda de: EU POSSO, EU CONSIGO! (mesmo quando as vezes meu time não está em uma situação muito favorável) o sentimento permanece. Então o FA funciona como uma terapia.”


Amanda também contou um pouco sobre sua relação com o FA e suas maiores dificuldades como atleta nos últimos 7 anos: “Quando comecei a jogar em 2015, rolava muito comentário negativo. ‘Esse esporte não é pra mulher’, ‘mulher nem sabe bater forte’, ‘você deveria jogar vôlei’, foram algumas das muitas frases que escutei até de familiares na época, tive muita sorte que meus pais sempre me deram o apoio necessário em casa para passar por isso. Eu acho que a maior dificuldade que o FA traz é que você realmente precisa se dedicar dentro e fora de campo, precisa estudar e precisa cuidar do seu corpo e da sua mente. Para um esporte amador, às vezes exige demais. [..] Toda atleta de FA no Brasil gasta muito dinheiro por amor a esse esporte. O futebol americano amador para mim é muito mais que jogar, é um estilo de vida. [...] As amizades que ganhei nesse processo com certeza ficarão para sempre no coração, e todas as lições que aprendi que me ensinaram muito fora dos gramados também.”


Bianca ainda compartilha sobre as dificuldades de ser mulher nesse meio: [...] sem contar que sendo mulher tudo é mais complicado, é difícil termos um espaço seguro e saudável para as nossas práticas, e o mais duro é sempre ouvir isso, que somos mulheres, vai ser difícil, e temos sempre que lidar com isso. São muitos motivos para mim, mas o que me atinge de verdade quando eu penso sobre o motivo de jogar esse esporte é sobre desafios e encontros. O futebol americano mudou muito a minha vida e meus objetivos pessoais de uma forma que eu nunca esperava como uma grande mudança no estilo de vida. [...] É incrível poder mostrar para a sociedade o quanto nós mulheres somos capazes de praticar esporte, ainda mais o FA que é tido como um esporte agressivo e principalmente inspirar outras mulheres a praticar esporte”.


Andressa ainda salienta a responsabilidade que sente em continuar difundindo o esporte: “Jogar futebol americano é uma paixão. Acho que só quem entra e conhece a cultura do futebol americano sabe o quão difícil é deixar de jogar. Eu quero passar esse sentimento que eu tenho pelo futebol americano para essas pessoas que estão ingressando, eu quero que as pessoas se sintam cativadas como eu fui. No começo, eu era do Spartans e o amor pelo esporte lá é absurdo, algo que realmente contagia, uma coisa que eu peguei nos meus primeiros passinhos de FA, então eu também me sinto um pouco responsável de passar isso”.


Biga falou um pouco sobre o risco de lesões quando se joga FA: “Para mim, jogar FA é pertencer, é me sentir capaz, é companheirismo porque estou ali pelas que estão do meu lado, além de ser aquele lugar e momento em que não existem problemas e só aquilo importa, seja o treino, seja o jogo. [...] Muitas pessoas não incentivam justamente por isso, falam que só vou me machucar e ‘para que se sujeitar a isso?’, mas só quem joga sabe o quão incrível é esse esporte e que até as lesões valem a pena. Inclusive já operei o LCA do joelho esquerdo que rompi um dia antes da convocação do primeiro camp em 2019, voltar depois disso tem sido um grande desafio.”


Já a Vanessa falou sobre a responsabilidade, a colaboração e a coragem que é praticar esse esporte: “Para mim, jogar carrega bastante responsabilidade. Hoje eu não penso apenas em como posso melhorar individualmente, mas como posso ajudar todas a serem melhores juntas. E o futebol americano é isso, sinônimo de coletivo. Só seremos o melhor time, se conseguirmos ser melhores juntas. As dificuldades são sempre financeiras, é um esporte de alto custo, materiais importados, viagens etc. Existe preconceito por ser um esporte dito como violento, por nos machucarmos, por gastarmos nosso tempo e dinheiro... simplesmente pelo prazer de amar o que fazemos. Mas também existe muita admiração, exatamente pelos mesmos motivos. Poucas pessoas têm a coragem que nós temos e só quem vive sabe como é essa sensação”.


Recado para o FA Feminino


Seria impossível ouvir tantas histórias inspiradoras, conselhos e exemplos de força sem querer deixar uma mensagem. Quem acompanha de perto um pouco da realidade do Brasil sabe quantas dificuldades sequer foram citadas nesse texto, os perrengues descritos nas estrelinhas, a falta de apoio, o reconhecimento que às vezes não vem. No entanto, para mim, o mais importante sempre é ser capaz de tocar alguém, ainda que esse alguém seja apenas uma pessoa. Enquanto qualquer uma dessas 50 mulheres for capaz de deixar uma marca na vida de alguém, tudo ainda vai valer a pena. Enquanto minhas palavras levarem essas histórias para uma pessoa que seja, todo tempo investido será bem pago. Ainda que venham mil tempestades, enquanto formos capazes de dançar na chuva, estaremos prontos para ver o arco-íris quando o sol voltar a aparecer. Mesmo que os caminhos sejam nebulosos, o FABR sobrevive graças a você também, sim, você que leu até aqui!


“Se eu fosse deixar uma mensagem é a de que hoje o esporte me complementa e faz parte de grande parte da minha evolução como pessoa. Que nunca foi fácil lidar com os horários, com os deslocamentos, com as demandas necessárias para estar dentro de um time competitivo e buscando cada vez o melhor, mas que estar dentro de campo é compensador demais e que nesse momento todas as dificuldades vão ficar para trás e você pode só estar vivendo algo que você ama.” – Coach Maria Gabriela

“Se divirta! As vezes a gente fica super focada em ganhar, ter resultados, ser reconhecida, que acaba esquecendo que os melhores momentos são os que nos divertimos. De forma alguma quero dizer que é só festa e bagunça, mas tem que estar feliz fazendo, caso contrário não faz sentido! E nunca deixe que alguém diga que você não pode jogar, vai lá e mostrar o quanto você é capaz! #GRLPWR – Biga

“Para você que pensa em jogar futebol americano é um esporte coletivo muito inclusivo que aceita todos os biotipos físicos, todas são importantes em seus papéis para que um todo funcione. Nunca deixem que falem que você não é capaz, porque você é e sempre vão ter pessoas ao qual te lembre disso quando você esquecer. O FA é isso, uma grande família.” – Sol

“O Futebol Americano é um esporte de superação, e a diferença dos demais esporte é que você não está nessa jornada sozinha. Com certeza você sabe da força que tem 1 mulher, agora imagine mais de 40 mulheres juntas! Futebol americano é sobre isso.” - Tatiane

“Esse esporte é muito desafiador e exigente, mas ele também é extremamente recompensador. Faça cada segundo, cada snap, cada jogada valer a pena, você não vai se arrepender!” – Amanda

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2 Comments


Raquel Araujo
Raquel Araujo
Jun 30, 2022

Você escreve de uma forma incrível e passou exatamente nosso sentimento do camp. Obrigada, por isso

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Ramon Sasse
Ramon Sasse
Jun 26, 2022

Muito bom o post, parabéns 👏🏽

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