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Sobre mim

Meu nome é Giovanna e tenho 21 anos. Sou formada técnica em mecânica pelo Instituto Federal de São Paulo e atualmente curso Bacharel em Ciência e Tecnologia pela Universidade Federal do ABC, junto com Neurociência e Engenharia Biomédica. 

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Writer's pictureGiovanna Sociarelli

O silêncio diz mais que mil palavras

Guilhotina silêncio


De tudo que o humano pode condensar

no seu pacote mais repugnante de crueldade,

o que mais angustia é o desprezo profundo,

soberbamente construído pelo silêncio


Surdez, cegueira, falta de tato, frieza;

Ausências reunidas na emissão de nenhum som.


Na cara virada, na mão retida,

Estende-se o fosso e a miséria esmaga;

De nada se sente que vale o sem resposta,

Mero ruído na disfonia das relações

Emmanuel Mirdad


Já diria Paulo Coelho, você pode machucar com palavras, mas você pode machucar muito mais com o silêncio. Alguns diriam que ficar em silêncio é um direito, mas ele também é uma forma de posicionamento, e a NFL o usa constantemente. Há coisas que a liga é excelente em punir, como o uso de drogas – algo que deve causar inclusive pesadelos em Roger Goodell. No entanto, quantas vezes já vimos a instituição tomar qualquer posicionamento contrário à violência contra a mulher? Aliás, você sabe quantos jogadores ainda jogam após serem acusados de violência doméstica, assédio ou estupro? Você sabe quantos jogadores foram presos e não tiveram punições na liga?

Não, eu não queria escrever sobre isso. A propósito, esse é o texto mais difícil que eu já redigi. Eu digito e apago as frases constantemente. Não queria ter que falar sobre isso. Seria tão mais fácil sentar-me, assistir tapes de jogadores, fazer análises, previsões e discutir quais times estarão melhores em setembro. Mas eu sou incapaz de passar mais uma temporada sem falar sobre esse problema estrutural. Eu sou incapaz de me imaginar assistindo mais um ano jogos de Jameis Winston, Tyreek Hill, Deshaun Watson, Antonio Brown, Kareem Hunt (entre outros) e permanecer em silêncio. Eu queria escrever sobre momentos felizes, mas eu não sou mais capaz de ignorar, me dói como mulher e como fã de esportes.

Em 1790, Olympe de Gouges fez a “Declaração da Mulher e da Cidadã”, exigindo direitos iguais entre homens e mulheres – motivo pelo qual ela foi executada 3 anos depois. Passaram-se 231 anos e parece que a realidade não mudou. A violência contra mulher é um assunto transformado em tabu, algo a ser esquecido, apagado, desvalorizado, jogado para baixo dos panos e enterrado. É tão difícil tentar trazer esse assunto à tona: questionam suas capacidades, xingam e usam o argumento de “o esporte os faz violentos”, mas de que são importantes os motivos quando vemos mais de 80 jogadores presos a partir dos anos 2000 por violência doméstica [lista atualizada em 2019]?

Até quando vamos ignorar esse problema? Até quando vamos passar a mão na cabeça deles só porque são estrelas em campo? De quanto vale uma vida comparada ao futebol? De que importa quantos anéis e dinheiro eles ganham quando são, na verdade, criminosos? E quantas reportagens falam sobre isso? Quantas pessoas têm coragem de insistir nesse assunto? Quantas não esquecem os nomes desses homens segundos depois de ler a notícia?

O escândalo mais recente envolve um dos melhores quarterbacks da liga em atividade: Deshaun Watson. Ele está sendo acusado por agressão sexual em um total de 22 processos contra suas massoterapeutas – para quem tiver interesse em se aprofundar na história, deixo o link de uma thread da Ana Carolina Campos com todos os detalhes. Outro caso, também deste ano, é do Chad Wheeler, OT dispensado pelo Seattle Seahawks. Wheeler foi acusado de tentar matar sua companheira, mas também não sofreu punições por parte da NFL.

Em 2019, Antonio Brown, atual WR do Tampa Bay Buccaneers, foi acusado de assédio sexual, agressão e estupro. Foi suspenso por 8 jogos por “desrespeitar a política de conduta pessoal da NFL”. Ainda nesse mesmo ano, Tyreek Hill foi acusado de agressão ao seu filho e a sua mulher ainda grávida, pelo qual ele não foi punido. Outro caso famoso aconteceu em 2018. Kareem Hunt, atual RB do Cleveland Browns, foi filmado batendo em uma mulher no corredor de um hotel. Na época, o jogador pertencia ao Kansas City Chiefs, que o dispensou logo após a liberação desse vídeo. Após um pouco mais de 2 meses, ele foi contratado pelo Browns.

Esses são apenas 5 casos, 5 famosos casos, que boa parte do fã de futebol americano ignora por se tratar de grandes estrelas. Peyton Manning? É melhor nem relembrar que um dos maiores quarterbacks da história tem assédio em seu currículo. Seria impossível contar cada um dos casos. Entre acusações e prisões, eu ficaria dias escrevendo, averiguando cada um e montando tabelas para facilitar a visualização, no entanto, existe uma plataforma em que você pode consultar todos os jogadores que já foram acusados de algum crime. Também é possível verificar esses 44 homens acusados de assédio sexual ou essa outra lista.

A verdade é que o silêncio é um posicionamento. Enquanto a liga permanece em silêncio, outra mulher de jogador pode estar sendo abusada agora. Enquanto os times não mudam suas políticas, outros meninos vindos do College continuam com as mesmas atitudes medievais. Enquanto nós não nos revoltarmos, ninguém fará nada para intervir. Tom Brady vai abrigar Antonio Brown em sua casa e Bruce Arians permitir que ele seja contratado. Andy Reid vai continuar fingindo que seu WR estrela nunca quebrou o braço do filho. E a tradição vai se estendendo. Até quando? Até quando o show vai se sobressair a uma vida?

Não, eu não acredito que eu seja capaz de mudar o mundo sozinha, mas, como disse Angela Davis: “você tem que agir como se fosse possível transformar radicalmente o mundo. E você tem que fazer isso o tempo todo”. Até esse ponto da minha vida, eu não me iludiria em pensar que todos terminarão esse texto concordando com o que foi dito, muito menos dispostos a fazer algo diferente. Entretanto, eu aprendi a focar nas coisas sobre as quais eu tenho controle e seria desperdício usar minha voz para escrever mais do mesmo. Lembre-se sempre: existem mais mulheres que já foram assediadas e violentadas do que você imagina, inclusive as que te cercam. Talvez você não saiba, mas ao permanecer em silêncio diante de situações como essa, você mata uma parte delas também.

Já diria Julie DiCaro: você não é um espectador passivo!

"É chegada a hora de escolher entre o que é fácil e o que é certo". Harry Potter
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1 Comment


Raquel Araujo
Raquel Araujo
Jul 05, 2021

Perfeitas palavras, Gi! Não podemos nos calar!

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