O impacto da NFL e NCAA na pandemia da COVID-19
- Giovanna Sociarelli
- Apr 18, 2021
- 4 min read
Sem dúvidas a temporada 2020/2021 foi a mais estranha que qualquer fã de futebol americano já presenciou. A pandemia da COVID-19 esvaziou os estádios, adiou jogos, afastou jogadores e tirou parte do brilho desse grande show de setembro a fevereiro. Tanto a NFL quanto a NCAAF tiveram que criar alternativas para que tudo pudesse ocorrer com a maior normalidade o quanto fosse possível. Hoje vamos conversar sobre o impacto das duas ligas na propagação do vírus e a eficiência do rastreio dos casos.

Propagação
A temporada começou de estádios completamente vazios, um som estranho: o som do silêncio. A comunicação entre os jogadores era limpa e clara, se bobear, era possível ouvir até os sussurros. Com o decorrer do tempo, tanto a NFL quanto a NCAA decidiram que era seguro liberar parte do público nos estádios. A decisão final ficou por conta dos governadores de cada estado, mas, no final, basicamente todos os times permitiram um público reduzido. Isso fez com que muitas pessoas criticassem essa atitude, afinal, pedia-se cuidado e permitia-se público em estádio. Mas será que isso influenciou na propagação do vírus?
Um estudo feito por 5 pesquisadores americanos de diferentes universidades avaliou os impactos dos jogos da NFL e NCAA nas cidades em que foram sediados. A base de dados com relação ao público foi toda fornecida pelos relatórios oficiais de ambas as ligas, cruzando os dias de jogos, números de pessoas, coordenadas dos estádios, dados não farmacológicos sobre a COVID em todos os estados e intervenções públicas. Dessa forma, foram computados os novos casos de coronavírus a cada 100 mil habitantes, utilizando a base de dados da Johns. Hopkins University.
De 796 partidas entre 29/08/2020 e 28/12/2020, 528 tiveram público reduzido. As bases de dados entre incidência de novos casos de COVID em cidade com e sem público nos estádios foi comparada levando em consideração o tempo de incubação do vírus. Dessa forma, concluiu-se que os jogos não afetaram significativamente a propagação da doença em suas cidades. Acredita-se que a razão para esse fenômeno tenha sido a correta utilização das máscaras e distanciamento entre os espectadores, além de fatores como estádios abertos ou bem ventilados.
Como tudo na vida, esse estudo teve limitações. Os números de público da NCAA não são de domínio público, assim, os autores reforçam que quando eles forem divulgados, poderá ocorrer uma nova análise mais sensível sobre os dados. Dados políticos, como manifestações, não foram levadas em consideração, mesmo que algumas tenham contribuído e muito para a propagação do vírus. Dados de estados adjacentes também não foram levados em conta, assim como os efeitos da aglomeração da parada do Tampa Bay Buccaneers na Flórida não foram analisados.
Referência: TOUMI A., ZHAO H., CHHATWAL J. LINAS B. P., AYER T. “The effect of NFL and NCAA football games on the spread of COVID-19 in the United States: an empirical analysis”. MedRXIV, 2021.
Protocolo
Já falamos do extracampo, então agora vamos conversar sobre o protocolo da liga em relação aos jogadores. É de conhecimento público que jogos foram adiados, jogadores afastados, times prejudicados e que partidas absurdas (como aquele Broncos sem quarterback) aconteceram. No entanto, aqui falaremos única e exclusivamente sobre uma pesquisa americana em relação à eficiência do protocolo de rastreamento dos jogadores para barrar o aumento de casos na liga.
Os protocolos para a temporada 2020/2021 começaram a ser implementados em julho, ainda no período de treinamento e preparação para os jogos. Ele foi um acordo entre a NFL e a NFLPA (associação dos jogadores). Foram definidas medidas de controle nas viagens e instalações, além de serem levados em consideração os resultados dos testes PCR feitos quase que diariamente. Os jogadores ficaram sob rastreamento constante para ser observado qualquer contato que durasse mais que 15 minutos, levando em conta ainda o uso de máscara e a ventilação do local.
Os 32 clubes espalhados em 24 diferentes estados utilizaram do mesmo protocolo que ainda tinha uma separação: o padrão e o intensivo. No padrão, as medidas virtuais deviam ser utilizadas o máximo possível (medida obrigatória para qualquer reunião com mais de 15 pessoas), máscaras obrigatórias em todos os momentos (exceto dentro de campo), distância de 1,8m obrigatória entre as pessoas e testes PCR diários. Já o protocolo intensivo exige distância entre as pessoas, uso de máscara, reuniões exclusivamente virtuais e basicamente nenhum contato em grupo.
Todo novo caso positivo que era identificado tinha imediatamente seus contatos diretos rastreados, ou seja, foi possível controlar a propagação do vírus, pois, qualquer contato próximo por mais de 15 minutos, ou que não tivesse usado máscara, ficaria obrigatoriamente de quarentena por alguns dias, o que seria liberado a partir do momento que os testes PCR seguissem dando negativo.
No período de 9 de agosto a novembro foram realizados 623 mil testes PCR em, aproximadamente, 11.400 jogadores e membros da comissão técnica. Desse montante, 329 testes deram positivo, o que representa algo perto de 2,9% dos realizados. De agosto a começo de setembro, ocorreram apenas 10 casos (protocolo padrão), porém, entre 27 de setembro e 10 de outubro foram 41 casos. O cuidado de rastreamento passou a ser muito maior e a incluir os contatos pessoais dos jogadores. Além disso, o protocol intensive foi adotado por 29 times durante 431 dias – o que deve ter sido o fator responsável para a diminuição de casos.
Com isso, conclui-se que o rastreamento 24 horas e 7 dias da semana foi fundamental no controle da pandemia para que a temporada fosse cumprida em tempo regular. Ainda pode ser observado que o aumento de casos em setembro/outubro coincidiu com o aumento da propagação do vírus nos Estados Unidos, sendo a maior parte das contrações domésticas.
Referência: MACK C. D., WASSERMAN E. B., PERRINE C. G., MACNEIL A., ANDERSON D. J., MYERS E., SMITH S., MCDONALD C., OSTERHOLM M., SOLOMON G. S., MAYER T., SILLS A. “Implementations and evolution of Mitigation Measures, Testing and Contact Tracing in the Nacional Football League. Morbidity and Mortality Weekly Report, 2021.
Esperança
A vacinação americana continua avançando de vento em poupa. Nos estádios e/ou instalações dos times foram aplicadas mais de 2 milhões de vacinas contra o coronavírus. Esses dados nos trazem a esperança de dias melhores e mais normais e que daqui para frente cada um de nós possa valorizar ainda mais a ciência e os profissionais da saúde.
"A persistência é muito importante. Você não deve desistir, a menos que seja forçado a desistir." Elon Musk
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