Enquanto a NFL ganha cada vez mais atenção do público, movimentando milhares de dólares não só nos Estados Unidos, a modalidade feminina não recebe um terço da atenção que é dada ao esporte no gênero oposto. Muito pelo contrário, muitos acreditam que o futebol americano feminino se resuma à LFL (Legends Football League), no entanto, não é essa a realidade. Hoje você vai conhecer como foi a evolução (ou recessão) do esporte no território americano.
Em 1930 o futebol americano feminino, surpreendentemente, era muito popular nos Estados Unidos, fazendo com que os principais times levassem milhares de torcedores aos seus jogos. Dessa forma, era um esporte querido e respeitado, crescendo a cada dia, praticado por mulheres e meninas de todas as idades pelo simples fato de amarem o esporte. Não demorou muito para que tanta popularidade levasse os homens a enxergarem de outra forma. Como um esporte de contato causa muitas lesões, começou-se uma tentativa de retirar as mulheres dos campos por considerá-lo inadequado.
“Elas jogam bom futebol, mas seria melhor que as meninas praticassem natação, softball ou tênis”.
As primeiras a sofrerem as consequências dessa onda de machismo foram as regras. No começo eram similares à categoria masculina, contudo, em 1940 os discursos públicos masculinos passaram a ganhar força, assim foram criadas as regras para o “American Football for Woman” – um esporte seguro com menos lesões. Algumas alterações foram:
a) Qualquer contato intencional era considerado falta com punição de 25 jardas;
b) Não havia kickoff, a bola já iniciava na linha de 40 jardas;
c) Também não era possível o retorno de punts, a bola era automaticamente posicionada na linha de 40 jardas.
Para surpresa de zero pessoas, a modalidade começou a sofrer rejeição não só do público, como também de suas atletas. A consequência desse ato foi a proibição da prática em alguns estados com a justificativa de que as mulheres não eram capazes de jogar – como se não tivesse acontecido por anos antes disso. “Se o jogo é difícil para os homens, é impossível para as mulheres”. Como forma de resistência, as mulheres não desistiram de ocupar os gramados e continuaram durante anos nessa luta.
O sucesso pelo mundo
Atualmente existem ligas de futebol americano feminino espalhadas em diversos lugares no mundo – incluindo o Brasil – no entanto, o maior polo é nos Estados Unidos, seguido pelo Canadá com um total de duas. Com o passar do tempo, 10 ligas americanas foram criadas, proibidas ou banidas, restando apenas a Independent Women’s Football League (IWFL) – 2000, Women’s Football Alliance (WFA) – 2008 e Women’s Spring Football League (WSFL) – 2009.
O crescimento do esporte já atingiu a Europa que agora possui 21 países com mais de 200 times, todos sem ajuda monetária. Já no Brasil, a modalidade ainda dá os primeiros passos, mas já tem 10 times espalhados em todo território. O mais comum por aqui é o flag football, por conta de menor custo devido aos equipamentos não serem necessários.
Em 2010 foi realizada, pela International Federation of American Football (IFAF), a primeira Copa do Mundo de FA Feminino. O torneio acontece a cada 3 anos em diferentes locais. Lista das últimas sedes e finais:
Suécia, 2010: Estados Unidos 66-0 Canadá
Finlândia, 2013: Estados Unidos 64-0 Canadá
Canadá, 2017: Estados Unidos 41-16 Canadá
Finlândia, 2021: Próxima edição
Legends Football League (LFL)
Provavelmente a liga feminina mais conhecida seja a LFL, também conhecida como Lingerie Football League. Ela foi fundada em 2009, mas criada em 2003 como uma alternativa simultânea ao halftime show do Super Bowl.
Ela é transmitida por diversos canais americanos, mas também existe em países europeus. O público é, em sua maior parte, masculino e não vê problemas com o uso de lingeries, no entanto, essa modalidade é valorizada por sexualizar as atletas que, por sua vez, não recebem um centavo “por praticarem um esporte amador”. Entre elas, o amor ao esporte é evidente a ponto de se sujeitarem ao uso de pouca roupa para poderem jogar.
Dinheiro
Enquanto na NFL o quarterback Patrick Mahomes recebe 45 milhões de dólares por ano, na liga feminina as atletas pagam para poder treinar. Na WFA, por exemplo, cada jogadora paga entre 1 a 2 mil dólares por temporada para se filiar à liga. Com esse dinheiro, garante-se o seguro das atletas, além de bolas para as partidas, vídeos dos jogos para estudo e custos das viagens nos playoffs.
Os custos da temporada regular devem ser arcados pelos próprios times que têm 20 mil para gastar por ano. Esse orçamento é, basicamente, para arcar os custos de viagem, ônibus, hotel, estadia e tudo que envolva uma temporada. As atletas não recebem um centavo para jogar e, muitas vezes, ainda ajudam seus times a organizar eventos para aumentar a arrecadação de dinheiro.
Levando em conta esse cenário, as atletas, além de se preocuparem com os treinos e competições, ainda têm que estudar e trabalhar. A única motivação delas em continuar no esporte é o amor por ele. De qualquer forma, ainda há um grito de esperança com essa representatividade, pois ainda há muito espaço para crescimento e amadurecimento das ligas femininas, o que deve ser estruturado para que o esporte ganhe mais visibilidade, no Brasil e no mundo – atraindo público e patrocinadores. Se tem uma coisa que mulher não faz é desistir e não será essa tentativa de anos de boicotes que mudará o destino promissor do esporte.
"Quero que os homens se comprometam para que, assim, suas filhas, irmãs e mães se libertem do preconceito e também para que seus filhos sintam que têm permissão para serem vulneráveis, humanos e uma versão mais honesta e completa deles mesmos." Emma Watson
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