Mina Kimes nasceu no dia 8 de setembro de 1985 em Omaha, Nebraska. Ela trabalha como analista da NFL para a ESPN, além de escritora sênior e host no podcast “The Mina Kimes Show”. Inclusive, acredito que seja uma das melhores analistas da ESPN americana. Quem tem costume de acompanhar as notícias da NFL consegue perceber que ela sempre faz comentários contundentes, diferente de alguns que gostam de lançar comentários bizarros (hot takes) para chamar atenção do público.
Kimes nem sempre foi apaixonada por futebol americano. O amor (ou obsessão) pelo esporte nasceu da relação que ela sempre teve com o pai, seu maior exemplo de vida. Os dois foram muito próximos durante sua infância e adolescência, momentos de aprendizado e carinho que a moldaram como o ser humano que é hoje. Foi ele que a tornou competitiva e intensa, igualzinha a ele. No final do ensino médio, a convivência entre os dois foi abalada, não que tenham deixado de se comunicar, mas não tinham mais a mesma conexão de falar sobre o que viesse à cabeça.
Sobre os esportes, ele gostava de basebol, mas sua paixão sempre foi pela bola oval – um torcedor fanático do Seattle Seahawks. Já ela, quanto mais velha ficava, menos esportes acompanhava. Muitos anos depois, começou a ver jogos com amigos no bar. Nem sabia o porquê, mas continuava acompanhando. Ligava para o pai e perguntava o que tinha achado das jogadas ou dos novatos ou qualquer coisa que não tivesse compreendido durante o jogo. “Se ele ficou surpreso pelo meu interesse repentino no esporte, ele não demonstrou”, disse.
“Não demorou para que os domingos se transformassem no resto da semana. Quanto mais eu assistia, mais eu queria saber. Meu interesse se transformou em obsessão. Eu comecei a ler notícias simples, depois blogs, depois fóruns e depois análises. Aprendi a visualizar as faltas antes de serem marcadas e a diferenciar os vários tipos de cobertura na defesa. Ouvi podcasts no metrô e assisti jogos antigos para me divertir. [...] Há coisas que nunca disse a meu pai e sei que há coisas que ele nunca me disse. Mas, às vezes, só ter algo para falar, uma coisa insignificante que seja, é suficiente. Na verdade, é mais do que suficiente. Isso me faz indescritivelmente feliz. O maior desejo que a temporada nunca acabe”.
A partir desse momento a vida de Kimes começou a mudar radicalmente. Ela não era jornalista esportiva, na realidade, trabalhava como jornalista de negócios na Bloomberg News. Porém, passou a se manter ativa no “Seahawks Twitter”, sempre compartilhando sua opinião sobre a NFL. Em 2010/2011 seus posts começaram a ser mais frequentes, então conheceu fãs de NFL, além escritores e analistas de futebol americano. Foi esse o pontapé para conhecer aqueles que tinham a liga como profissão, inclusive pessoas que foram influentes no decorrer de sua carreira.
“Uma coisa boa sobre a internet é que ela mostra que você tem público quando você acha que não tem, se é que isso faz sentido. Antes da internet, eu nunca pensei que poderia me interessar para falar ou escrever sobre futebol americano. [...] Eu já estava engajada nisso por alguns anos e eu era escritora. Se você é apaixonado por algo e você é escritor, você escreve sobre isso.”
Foi com uma ajudinha do Twitter que Mina percebeu que amava escrever sobre futebol americano. Ela dedicava todo o seu tempo livre para produzir conteúdo e não fazia ideia de que as pessoas poderiam se interessar no que ela escrevia. Em 2014, ela entrou para a revista da ESPN e, a partir do momento que isso deixou de ser apenas um hobby, começou a usar todo o seu tempo estudando sobre o esporte. Não só assistindo aos jogos, mas tentando entender melhor o funcionamento deles. A propósito, não foi apenas lendo e escrevendo que ela passou seu tempo, foi também fazendo muitas perguntas a outros analistas.
De escritora da revista, ela passou a repórter. Em suas palavras: “Ninguém realmente se interessa por quem está escrevendo o perfil do Aaron Rodgers. Quando você é escritora, as histórias falam por si próprias, mas, quando você é repórter, você fala por si”. É um constante trabalho em melhorar, não o conteúdo do que é dito, mas a forma como é apresentado. É um constante buscar a perfeição para que as pessoas possam apenas concordar ou discordar de sua opinião. E, para uma figura pública como ela, o maior trabalho é tentar ignorar essas críticas sem fundamento.
Kimes, em entrevista para o No Filter Pub, ainda destaca que as críticas para as análises escritas por mulheres são bem diferentes das análises escritas por homens, no entanto, como repórter ela salienta que nunca teve problemas desse tipo. Para estar na televisão cercada por tantos homens, ela teve que se ensinar a interromper as outras pessoas – uma habilidade que não possuía antes. “Há muitos aspectos no meu trabalho que não são coisas que estava naturalizada a fazer e, uma delas, é se mostrar grossa. Eu acho estranho quando as pessoas são grossas por natureza. Isso geralmente significa que você é sociopata, certo? Sensibilidade é humana”.
Embora tudo tenha acontecido inesperadamente, Mina conseguiu construir uma carreira de sucesso como analista. Com certeza tiveram críticas que a abateram, é impossível conseguir passar por comentários negativos sem absorver ao menos um, mas o fato é de que ela sobreviveu a tudo isso: sobreviveu a toxidade da televisão, da internet e até mesmo de algum colega. Ninguém nasce pronto para estar na televisão ao vivo para milhares de pessoas com opiniões fortes e doidos para te criticarem, porém isso é algo que pode ser treinado e aprendido com o tempo. Se ainda falta representatividade feminina no meio esportivo, Mina Kimes está aqui para provar que tudo é possível: uma mulher, descendente de coreanos, que veio do Twitter para mostrar ao mundo seus estudos e análises. A verdade é: não há lugar no mundo que uma mulher não possa alcançar se estiver disposta.
"Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos". Friedrich Nietzsche
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