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Sobre mim

Meu nome é Giovanna e tenho 21 anos. Sou formada técnica em mecânica pelo Instituto Federal de São Paulo e atualmente curso Bacharel em Ciência e Tecnologia pela Universidade Federal do ABC, junto com Neurociência e Engenharia Biomédica. 

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Mariana Spinelli: uma conversa sobre representatividade

  • Writer: Giovanna Sociarelli
    Giovanna Sociarelli
  • Mar 31, 2021
  • 7 min read

Mariana Spinelli nasceu no dia 19 de setembro de 1997, uma virginiana vinda da terrinha Minas Gerais, mais especificamente, Belo Horizonte. Repórter dos canais ESPN, Mari carrega consigo algo muito maior do que apenas ocupar um cargo na televisão: faz parte de uma geração que busca mudar a realidade e a representatividade feminina no esporte, seja ele em campo ou no jornalismo. Ela pode não estar inserida diretamente no meio da NFL, mas sua presença é importante para abrir portas de que outras meninas e mulheres criem forças e não desistam de seus sonhos.

Fonte: @marianaspinelIi, Twitter.

A pequena Mariana cresceu apaixonada por futebol e com a bola no pé. A primeira palavra que pronunciou foi bolinha, pois desde sempre ia para o estádio com o pai. “Minha primeira memória afetiva com o esporte parte da minha memória com meu pai, é uma memória de vida mesmo”. Além disso, sua mãe é jornalista esportiva e apresentava o Globo Esporte grávida dela, ou seja, sua ligação com o mundo do futebol é algo que passa por suas veias desde as primeiras semanas de vida. “Eu sei que 90% das mulheres não têm esse incentivo, mas eu acho que ter crescido nesse meio mudou o meu desenvolvimento como pessoa”.

Lidar com o esporte é algo que muda as pessoas, aliás, o esporte é um agente capaz de transformar a vida de alguém, fazer com que dias ruins se tornem bons ou que problemas sejam atenuados, trazer pessoas novas e apresentar um senso de comunidade e parceria que poderia demorar para surgir naturalmente. Não é fácil passar por metade das coisas que você tem que encarar quando decide praticar alguma atividade: são rótulos colocados, frases que magoam, julgamentos, treinos intensos, mas ele sempre vale a pena no final. Esse percurso não foi diferente para ela:

“O esporte é educação. Quando eu entrei para a escolinha de futebol, aprendi a lidar com gente. Não adianta eu ser a melhor jogadora do meu time porque não consigo marcar todo mundo. Não adianta eu gritar com a menina do meu lado porque ela não vai me entender. Eu aprendi a olhar para o outro e entender sua realidade, um processo de relação social e de liderança. Com 14 anos virei a capitã do time e eu gritava muito com as meninas. Foi um soco no estômago. Tive que entender dificuldades, realidade, limite, parceria, saber perder e reconhecer pontos fracos e fortes. Quando você tem isso em seu desenvolvimento, é uma sensação de coletivo que poucas coisas conseguem dar, algo que só quem vive no meio do esporte consegue sentir”.

Não foram poucas as vezes que ela encontrou dificuldades no caminho que percorreu, principalmente no futebol. O preconceito era, e ainda é, grande com mulheres que gostam de futebol e o mundo foi cruel com a pequena Mariana. Ainda com 6 anos foi chamada de “menino” simplesmente por jogar. “Eu cheguei em casa chorando e falando para o meu pai que ia parar de jogar. Eu não entendia a relação de acordar menina, chutar uma bola e virar menino. Eu era uma criança, não entendia preconceito e machismo”. Mas são em momentos difíceis que as pessoas importantes se fazem ainda mais necessárias e, para sua sorte, ela tinha seu pai que a incentivou a não desistir. “Eu tomei o caminho que muitas meninas não tomam, que é seguir, ter forças, chegar na escola no outro dia com a chuteira de novo”.

Sua relação com o meio esportivo continuou, mesmo aos trancos e barrancos, sofrendo muito dos 6 aos 15 anos por fugir daquele padrão das crianças. Na escola, ela ainda jogou vôlei e basquete (por causa do High School Musical), entretanto, o futebol foi sempre o maior amor. Ainda nessa idade, ganhou o apelido de Dadai, pois seu irmão pequeno não sabia falar Mariana e a chamava assim. O apelido acabou pegando e ela só se transformou em Mariana de novo quando entrou para a ESPN.

A carreira como jornalista não foi sempre algo almejado. Crescer com a mãe longe em vários momentos por cumprir plantões (sábado, domingo, feriados ou festa de família) acabou com que ela não quisesse seguir o mesmo caminho. No entanto, assim que entrou na PUC-MG, sabia que tinha fome de vivenciar o jornalismo e foi assim que com mais dois amigos fundou o “Roteiro Alternativo”, um portal 100% universitário. “Essa fase foi incrível. Aprendi a filmar, editar, operar câmera, fazer reportagem e a ter noção de vídeo. Acho que isso me abriu e me abre muitas portas hoje em dia”. Em 2018 entrou para a ESPN. Não tinha decidido que queria a parte esportiva, mas seus amigos a incentivaram a fazer a seletiva do canal. “Hoje sou muito feliz fazendo o que faço, não me importo com plantão”.

Desde então, ela coleciona pequenos momentos que guarda com carinho, como entrevistar a Marta, cobrir o Super Bowl LIV no Bud Basement, comentar a Champions League Feminina e, a mais recente, apresentar o Sportcenter. “Tenho muita dificuldade de falar carreira. Acho que estou muito no começo para falar de algo grande que fiz. Sou muito chorona, então me emociono e curto cada momento”. Mariana é aquela pessoa que você consegue sentir a energia boa de longe, que se pega rindo das piadas bobas ou das referências, que eleva o nível do lugar onde está, que passa sua energia para o público e serve de inspiração para milhares de pessoas.

Porém, estar na televisão, como ela mesma disse, não é um paraíso. “As pessoas acham que tem o direito de te atacar porque você está distante delas. Mas dei muita sorte de ter pessoas incríveis comigo que sempre me apoiam muito. [..] Tentam te descredibilizar pela idade, chamando pelo diminutivo, tentando te colocar numa posição mais fraca. Tem dias que são mais difíceis, que pegam num ponto fraco seu. Ao mesmo tempo, eu sinto um apoio gigantesco vindo das mulheres, é uma base muito legal. Depois de um dia ruim, abro a DM do Instagram e vejo um monte de mensagem legal de mulheres. Eu não vou conseguir agradar todo mundo, até porque o machismo é algo culturalmente difícil de quebrar, mas minha presença ali é um recado, assim como outras mulheres como a Marcela de Melo, Bibiana Bolson, Alana Ambrosio, Roberta Barroso e Paula Ivoglo. Às vezes a gente é mais forte, às vezes a gente balança, mas não tem como tirar a gente desse lugar”.

É sempre importante lembrar o quão difícil é ser mulher no meio do esporte. Você não é levada a sério, é questionada, criticada, podada, julgada pela aparência e, por muitas vezes, esperam um erro para poderem te diminuir, não como profissional, mas como pessoa. Ser mulher em um meio ainda predominantemente masculino significa fazer o dobro do trabalho e ter o dobro de cuidado com o que é dito, significa ser forte todos os dias, mesmo que o mundo esteja despencando ao seu redor. Mariana demonstra tudo isso, sendo um exemplo de força e superação – não só para mim, mas para muitas outras meninas.

“Sou mulher, sou nova, estou no ar e tenho uma representatividade enorme. É muito bom ver o crescimento das mulheres, mas eu sei que ainda não temos mulheres negras. Estou 100% dentro de um padrão, ainda temos muitos passos para dar. Fico feliz e preocupada de saber que com 23 anos sou referência. Não temos mulheres com muito tempo de carreira, estamos chegando agora, então, a longo prazo, são pouquíssimas. Minha referência máxima mais velha? Fernanda Gentil? Marcela Rafael? Renata Fan? São mulheres muito novas ainda”.

Mariana Spinelli integra plenamente o meio esportivo com o meio pop, sempre ligada em séries, filmes, bandas etc. A propósito, essa é uma grande marca de seu jornalismo, sempre carregado de referências e piadas, sempre com astral leve.


Melhor entrevista: Marta ou Lauren Jauregui?

Lauren. A Marta está no meu mundo, a gente ia se cruzar em algum momento, mas a Lauren não, foi totalmente ao acaso.

Entrevista dos sonhos esportivos?

Megan Rapinoe, Lebron James e Serena Williams.

Entrevista dos sonhos pop?

Taylor Swift.

Grande objetivo?

Austrália 2023, participar da Copa do Mundo Feminino de alguma forma. Ainda não sei como, mas esse é meu objetivo a curto prazo.

Quais são seus ídolos?

No jornalismo, meus pais são minhas maiores referências. No jornalismo esportivo, Fernanda Gentil e Tiago Leifert, Mario Marra, Leonardo Bertozzi, Rômulo Mendonça, Gabriela Moreira, Marcela de Melo e todas as pessoas que trabalham comigo. Tenho muito essa sensação de parceria, de olhar para o lado e consigo aprender bastante. E no esporte, a gente cresce apreciando homem, demora a ter uma referência feminina, aprendemos depois de mais velha. Tenho a Marta, Formiga e Cristiane como grandes referências, mas eu cresci apaixonada pelo futebol do Ronaldinho Gaúcho. Mais tarde, por tudo que representam, tenho a Megan Rapinoe, Lebron James e Serena Williams.

Qual sua maior motivação?

A minha vontade de deixar alguma marca. Eu me emociono muito quando alguém me fala algo muito legal e eu vejo que estou construindo alguma coisa. O que me motiva é essa ambição de representar algo. Pode ser para o futebol feminino, para minha família, para os meus amigos, para Belo Horizonte, nacional. Eu não falo por fama, eu falo por participar de alguns processos, se eu puder fazer 5 pessoas assistirem o futebol feminino, já é um passo. Quero orgulhar as pessoas que passaram e me conheceram com alguma mensagem legal.


Um exemplo de força, determinação e cuidado com a mensagem passada ao público. Um grito constante de representatividade para um futuro melhor. Uma mulher que, mesmo tão nova, já deixa suas marcas em cada uma das pessoas sentadas no sofá de casa, seja incomodando aqueles com mentalidade retrógrada ou incentivando aqueles que precisam de apoio. Mariana é uma grande profissional e um exemplo, assim como todas as outras jornalistas e repórteres do meio esportivo. Você pode fazer a diferença na vida de alguém, mesmo que nunca tenha conhecido. Você pode mudar coisas que nunca imaginou. Você é capaz de agir como se estivesse mudando o mundo todos os dias e, talvez você esteja. Mariana é tudo isso e, provavelmente, muito mais.

“Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre.” Simone de Beauvoir

Taynná

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