Gabriella Evangelista, conhecida por muitos apenas como Gabi, nasceu no dia 16 de agosto, uma leonina determinada, criativa, alegre e com personalidade forte, características que, sem dúvidas, foram fundamentais para cada uma de suas conquistas. O esporte sempre fez parte de sua vida e ser atleta sempre foi o seu maior sonho. Durante a escola jogou voleibol e handebol, mas foi no futebol que realmente encontrou uma paixão – abandonada apenas no último ano do Ensino Médio para focar nos vestibulares.
Após ingressar na universidade, Gabi decidiu procurar um novo esporte para praticar: o rugby, passando a treinar com o time masculino. Em 2017, o ex Head Coach do Brasilia Pilots, Raphael Negreiros, convidou-a para fazer um teste com a equipe. “A vontade de jogar futebol americano surgiu logo após meu primeiro treino. Amei o esporte de primeira e percebi que levava jeito, já tinha uma base muito boa devido ao rugby, então comecei a me dedicar e treinar muito duro”, disse Gabi.
Em 2018, Gabi jogava de defensive end (DE) quando rompeu totalmente o ligamento cruzado anterior (LCA), sendo uma pausa dramática no começo de um novo sonho. A recuperação foi levada à sério pela atleta, que em 2019, 10 meses depois, pôde voltar aos gramados, agora como defensive tackle (DT). Em outubro, ela descobriu a existência da WFLA (Women’s Football League Association): “Quando descobri, vi ali a oportunidade da minha vida, pois meu sonho sempre foi ser atleta, desde pequena falava para os meus pais isso”.
Sozinha, Gabi decidiu montar seus highlights jogando e enviou para todos os times da liga por e-mail. Foram 5 meses até que as respostas começassem a chegar, recebendo retorno de três equipes com o interesse de realizar uma entrevista por vídeo chamada. Em abril, ela conversou com o San Diego Tridents, uma reunião com mais de 60 atletas do mundo inteiro, incluindo muitas das integrantes da LFL (Legends Football League). O encontro virtual durou cerca de 4 horas e ela foi a única brasileira presente.
“Uma semana depois, recebi a melhor notícia da minha vida: a diretoria do Tridents me mandou um e-mail dizendo que fui aprovada por toda a comissão técnica, sendo assim, a primeira brasileira na primeira liga profissional de futebol americano feminino”.
A WFLA é uma liga de criação recente, mas que muito se assemelha à NFL. Serão 32 com 55 atletas cada (+ 5 permitidas no practice squad), totalizando 1920 jogadoras. A liga promete ter o maior nível de futebol americano feminino jogado no mundo, além de ser a primeira a realmente pagar as atletas para praticarem o que amam, ou seja, é mais um passo dado em busca da igualdade de gênero. A 1ª temporada começará em maio de 2022 (atrasada por conta da pandemia), terminando em agosto, dessa forma, não competirá com o público da NFL e NCAAF.
O fato é de que esse é um passo importante para o futebol americano feminino, não só nos Estados Unidos, mas no mundo inteiro. É a chance de consagrar um esporte predominantemente masculino, acabando com esse preceito e dando valor real às mulheres que desejam apenas praticar o esporte que amam. Além disso, é um momento lindo para o Brasil ver uma de suas atletas chegando tão longe. Gabriella conseguiu transformar o seu sonho no sonho de outras pessoas, não só no quesito de inspirar outras meninas a seguirem seus passos, mas também a sonharem junto com suas novas conquistas, torcendo por seu sucesso.
“Meu maior sonho esportivo é conseguir estar na lista das melhores atletas da liga, ser titular, fazer sempre ótimos campeonatos, sempre me sobressair neles, ter sempre bons números e estar acima da média. Acho que todo atleta sonha com isso, é nosso trabalho. Treinamos e damos nosso sangue pra isso, não acho errado pensar assim. Conseguir ganhar o campeonato com meu time por todos os anos, ser um exemplo de força, coragem e determinação e apoio pra todas as mulheres que também têm seus sonhos, não importa qual seja”.
O que a Liga Brasileira precisa melhorar?
Na minha opinião, acredito que a liga Brasileira precisa, em primeiro lugar, de mais infraestrutura e mais patrocínios. Com a melhoria dessas duas condições, o fortalecimento do esporte vai acontecer cada vez mais. Os times necessitam de patrocínio para campos, uniformes, viagens e despesas com o campeonato, se conseguirem dar um passo em relação a infraestrutura de modo geral, o crescimento e evolução virão.
Qual o seu conselho para as futuras gerações?
Meu conselho para as futuras meninas que querem ingressar na liga é: em primeiro lugar, trabalhem muito duro, dentro e fora de campo. Treinem muito na academia, treinem muito no campo, aprendam a jogar o esporte, e treinem muito o seu mental. Tenham fé em Deus acima de tudo e fé em vocês mesmas. Só desistam quando conseguirem e, quando conseguirem, trabalhem mais duro ainda. Tenham fé em Deus na certeza de que nada acontece sem a permissão dele. É fazer a sua parte e entregar o que não se pode nas mãos do Senhor, porque Ele sabe do coração de cada um e trabalha sempre nos nossos sonhos. Tenham fé em Deus e em você.
Quem conhece a Gabi, seja de longe ou de perto, consegue enxergar a força e a luz que exala dela. Abrir o perfil dela do Instagram é uma dose de motivação e de amor cativantes, é possível sentir toda a luz que ela transmite do fundo do coração e toda a determinação que colocou para chegar aonde está. É uma pessoa doce, cheia de amor no coração e querida por todos que a conhecem. Tenho certeza de que ela continuará sendo inspiração por onde passar e de que sua conquista deixará um legado para toda uma geração de meninas brasileiras que, assim como ela, sonham em se tornar atletas. O Brasil seria pouco para alguém como Gabriella, ela merece conquistar o mundo inteiro, sabendo que sempre terá o apoio daqueles que deixou aqui na terra verde e amarela. Sua jornada é longa, mas não me restam dúvidas de que será abençoada. Voa, Gabi!
“Paciência e perseverança tem o efeito mágico de fazer as dificuldades desaparecerem e os obstáculos sumirem.” John Quincy Adams
Comments