Hoje, 14 de março de 2021 é um dia triste para a pessoa que vos escreve. Hoje, Andrew Christopher Brees anunciou sua aposentadoria da NFL após 20 anos. Hoje, 14 de março, é seu “aniversário” de chegada a New Orleans e, provavelmente por isso, foi a data utilizada para comunicar o fim de sua carreira como quarterback, mas só o início da carreira de comentarista. Hoje, escrevo entre lágrimas. Não sou capaz de dizer em palavras o que sinto, então decidi contar a história do meu maior ídolo no esporte e que vem sido o motivo das minhas alegrias desde 2018.
Drew Brees, meu capricorniano favorito, nasceu no dia 15 de janeiro de 1979, na cidade de Dallas, Texas. No entanto, ele não viveu lá por muito tempo: aos 7 anos, quando seus pais se separaram, mudou-se para Austin. Essa não foi sua única mudança sob guarda de sua mãe, que, como buscava um bom programa de atletas para seus dois meninos, decidiu ir para o distrito de Westlake High School – onde, para nossa sorte, começou a carreira no futebol americano.
Chegou na escola como calouro, mas aos poucos foi conquistando espaço no time. Em seu ano sênior, no qual disputava os playoffs, sofreu uma ACL (rompimento do ligamento anterior cruzado), que foi uma divisora de águas em sua vida. Ainda tão jovem já tinha percebido que poderia nunca mais jogar o nível que estava acostumado, podendo encerrar sua carreira antes mesmo de começar, porém, foi essa dificuldade que o fez crescer física e mentalmente.
Sua primeira proposta de recrutamento para universidade chegou apenas nos playoffs, afinal, sua lesão levantou dúvidas em relação ao seu futuro desempenho. De qualquer forma, na Championship State, a Universidade de Purdue acreditou naquele menino, olhou em seus olhos e viu potencial. Nas palavras de Brees “foi a primeira vez que alguém me olhou, disse quem eu era e me fez acreditar que eu era capaz.".
Aos 19 anos, Drew conheceu Brittany, sua esposa. Nesse dia, ele e o amigo estavam com as mãos cheias de sangue por brincarem na neve sem luvas, então ela o achava só um jogador babaca. Esforçou-se para evitá-lo, enquanto ele se esforçou para conquistá-la. Em uma festa começaram a conversar sobre a vida e perceberam terem os mesmos pontos de vista sobre o mundo, decidindo assumir um namoro.
Nessa mesma idade, ele já tinha quebrado todos os recordes de Purdue, provando-se, não só um grande quarterback, mas um líder dentro e fora de campo, a pessoa que era capaz de levar todo o time para o mesmo nível. Embora tivesse tanto sucesso, seu combine não foi de encantar os olhos – estava muito focado em se formar. Desacreditado, imaginava-se que fosse fruto de um sistema e que não tivesse talento para a liga. No Draft 2001, todos os times já tinham escolhido seus quarterbacks na primeira rodada, incluindo o Miami Dolphins, que tinha mostrado grande interesse pelo jogador. Foi na última pick #32, a última da primeira rodada, que o San Diego Chargers o escolheu como futuro de Doug Flutie.
Em 2003, ainda morando em San Diego, Drew e Brittany se casaram, mas o destino não os reservava San Diego como seu ponto final, muito ainda estava por vir. No Draft 2004, a franquia selecionou Phillip Rivers para competir a vaga de titular, mas foi no final de 2005 que tudo mudou: Drew teve uma lesão no labrum direito – estrutura cartilaginosa responsável por manter a estabilidade do ombro. Uma lesão incomum, sem procedimento específico que o fez acreditar que jamais voltaria a vestir uma camisa de futebol americano. Contudo, ainda não era o fim, sua cirurgia ocorreu satisfatoriamente e recuperou-se em 8 meses – o que foi o suficiente para o fim de seu contrato.
A Free Agency chegou e dois homens acreditaram que ele era o futuro: Sean Payton (head coach) e Mickey Loomis (general manager) do New Orleans Saints. A cidade, ainda devastada pelo furacão Katrina, viu naquele menino baixo, sem força no braço e sem mobilidade a inspiração para seguir em frente. Aquele 14 de março de 2006 mudou para sempre o futuro da franquia, mas não só isso, o futuro da cidade. NOLA fez de Brittany e Drew pessoas melhores, trouxe um lar para a família crescer e cresceu: fruto desse amor, nasceram 4 filhos (3 meninos e 1 menina). É a família a coisa mais importante de sua vida. Ele ama jogar com os filhos e espera que, ao menos um deles, siga o rumo do pai no esporte.
A reconstrução foi mútua: um time que costumava ser o saco de pancadas da liga, um jogador ainda em recuperação de uma lesão grave e uma cidade destruída. Todos deram as mãos e seguiram juntos, fortalecendo-se a cada dia que passava, dando as mãos, apoiando-se, incentivando-se. Essa união é a relação mais bonita que um time e uma cidade podem possuir, é algo muito mais profundo do que um jogo aos domingos, é uma relação de respeito e amor, uma relação de família. O jogador se tornou referência na cidade, seja em campo ou fora dele. Fundou a “Brees Dream Foundation”, que já arrecadou mais de 20 milhões de dólares para ajudar crianças com câncer.
É claro que muitas dificuldades apareceram: anos de defesas horríveis, lesões (polegar 2019 com 5 jogos perdidos, e 11 costelas + pulmão colapsado em 2020 com 4 jogos perdidos), playoffs perdidos… entretanto, foi ele que elevou esse time ao topo do mundo, foi graças a ele que a cidade soube o que era ganhar novamente. Foi com ele que, em 2010, o Saints venceu o Super Bowl XLIV. Foi graças a ele que a torcida pode guardar na memória o dia recorde de touchdowns passados e de jardas aéreas.
Andrew Christopher Brees ensinou muito, não só a seu time e sua cidade, mas ao fã de futebol americano. Seu legado será eterno. Um quarterback que abriu as portas para aqueles que não são tão altos, que mostrou que não é só a força no braço, que outras características podem fazê-lo gigante. Um quarterback que ressignificou a palavra lealdade tantas vezes, que foi fiel a sua cidade, a sua franquia, aos seus companheiros de equipe. Foi ele quem soube incentivar como ninguém, que sempre fez lindos discursos e que esteve nos treinamentos mesmo com 11 costelas fraturadas.
Eu nunca terei palavras o suficiente para agradecer como o baixinho Andrew ajudou nos meus piores momentos, como ele me fez enxergar o Saints como uma família a qual eu devo lealdade e que deve lealdade a mim. Eu jamais conseguirei agradecer as lágrimas de felicidade, as lágrimas de emoção, as lágrimas de tristeza, os tik toks dançando, os momentos desesperados pela sua saúde ou por me ajudar a esquecer minha vida, focando na única coisa que me importa aos domingos, quintas, segundas, natal e ação de graças.
Para sempre o GOAT do meu coração, para sempre o meu #9. Que sua carreira como comentarista da NBC seja tão incrível quanto os 20 anos nessa liga. Nos vemos no Hall da Fama, em Canton, 2025.
“You can accomplish anything in life if you are willing to work for it”. Drew Brees
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